EGÉRIA:
substantivo
feminino
1. mulher que
inspira, que dá conselhos.
2. entusiasmo
criador; inspiração.
- “Devia ter me agarrado com mais força naquele caixão. Quem sabe
o defunto, o Varlei, tivesse me salvo da enchente...”
Francisco da Maria, o Chiquinho, acordou com o sol batendo forte,
rasgando suas pálpebras. O sol raiava já acima da colina do Alto Verde, lado oeste
da cidade.
Pegara no sono na quadra de futebol da Praça Principal. Penso que a
chamavam de Principal, por esperar que um dia a cidade de Egéria fosse crescer
mais que aquilo – mas até o momento, era principal e única.
Egéria contava com menos de 2 mil habitantes em meio a um clima árido
durante 10 meses do ano, no mínimo. Agosto tinha chegado e trazia consigo a
esperança da chuva. Esperança nas mãos postas do povo que rezava ao santo ou
aos santos que fosse, para regar seu solo, alimentar o raro gado, a escassa
lavoura, recuperar o Rio Largo, com o nível de água que a essa altura do ano, se
alcançasse os joelhos, eram os de alguma criança.
Essa secura da terra, se assemelhava, naquele momento, à secura da
boca de Chiquinho, ao qual faltava tudo, o que comer, onde dormir, mas não
faltava a garrafa de pinga que trocava por ajudar o Seuzé, dono de uma das duas
vendas da cidade. Afinal sem alguma bebida, como conseguir dormir? Com aquele calor
incessante no ar, aquela solidão incapacitante...Bebia mesmo, diariamente.
Chiquinho ergueu-se, organizou as calças com uma das mãos. As
costas da outra, passava pela baba ressecada entre a boca e o bigode e a barba
por fazer. Cambaleou, mas contou com o alambrado da quadra que o jogou de volta
ao prumo. Para compensar a quadra ‘inclinada’ sob sua vista, apoiou-se mais um
pouco, olhando ao redor, reconhecendo a paragem em que estava.
Pela saída lateral da quadra, logo ali, passava um trecho do Rio
Largo. Decidiu que naquelas águas, regaria a aridez da boca e regaria o rio de
volta, liberando da bexiga a pinga da noite passada...Arrastava pé ante pé, nos
primeiros passos, que logo se endireitaram, em melhor ritmo, não era novidade
amanhecer assim, firmou-se.
Diante do Rio, jogou os judiados sapatos de lado, sentindo a areia
sob os pés calejados. Roçando as solas, chegou à beira, não sem desafio, com as
mãos em concha, com a água escassa e límpida, extinguiu a secura da boca,
suspirando, entre goles, aliviado.
De pé novamente, abriu a braguilha e apontou o membro para o rio,
lembrando da infância, em que a meninada entre brincadeiras volta e meia
recorria àquele mesmo trecho para mijar.
No zigue-zague da brincadeira infantil, reproduzida nesse instante,
levantou os olhos e percebeu algo estranho, à cerca de uns 10 metros...Fixou o
olhar, focou melhor, e assustado interrompeu-se bruscamente. Pelo ângulo que
tinha, pareciam-lhe dois tornozelos e um traseiro e braços estendidos, boiando.
Sem pensar, correu rio adentro. E, mais próximo, teve certeza. Era um corpo!
Inclinou-se, e ainda
que, com medo da familiaridade dos trajes, virou o corpo e viu o rosto do seu amigo,
Varlei...Élinson Martins
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Trabalhando na segunda parte, gente, mas a ideia já está toda aqui. Acompanhem!!
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