sábado, 31 de maio de 2008

Antídotos


Me sinto vazio,

Mas estou inteiro,

Estou oco,

Mas sigo sendo um só.


Tomei uma quantidade brutal de antídotos,

Que mataria qualquer um,

Não fosse todo aquele veneno...

Queria correr,

Mas não sabia pra onde,

Queria fugir,

Sem entender o porquê.


Acho que tinha medo de que tudo desse certo demais,

Tinha medo de que o tempo passasse sem que eu fizesse acontecer,

Como uma tempestade que se arma,

Em que a chuva esquece de chover...

Cheguei a te ver correndo nas ruas, preocupada,

Sem saber se haveria tempo de fechar a casa,

Fechar as janelas,

Não deixar toda aquela água entrar.




domingo, 25 de maio de 2008

Subir, subir


Eu dizia...

Estou enredado em teus pêlos,

Minha boca carrega teu gosto,

Descaradamente, meu corpo responde quando ouço tua voz,

E te chama...

E tuas pernas cruzadas,

E tua nuca, com a pele arrepiada,

E tuas mãos entre os cabelos,

E o eco da tua risada,

E teu sussurro no meu ouvido,

E as marcas do teu batom na borda da taça,

Teu cheiro em mim,

Me cercavam, me entorpeciam

E quando tropecei na tua vida,

E quando invadi o teu caminho,

E quando interrompi tua conversa,

E quando desmarquei teus livros,

E quando invadi tua peça,

E quando desregulei teus relógios,

E desfiz o quebra-cabeça montado em teu quarto,

Ardi numa febre,

Escalei o que havia,

Vi a terra tão pequena lá de cima.


Hoje, danço uma música até cair,

Hoje, morro de rir,

Agarro a vida à unha, no pêlo,

Hoje, não penso em voltar no tempo,

Mas nas novas alturas que tenho a subir...



Martelinhos e Short Drinks II - Série

Eu achava incrível poder mergulhar

Ir cada vez mais fundo

Hoje, naquela profundeza toda, consigo abrir os olhos

E isso é tudo!


- ~ - ~ - ~ - ~ - ~ - ~ -


E hoje, ainda fico de todas as cores,

Quando sorrindo, serena,

Ela mexe nos cabelos,

E, sem dizer palavra,

Com os olhos também sorrindo,

Me olha e me lava a alma...



sexta-feira, 16 de maio de 2008

Dia – adia


Tinha acabado de acordar,

Tinha acabado de chorar,

Tinha acabado...

O dia seguinte foi mais difícil,

E os que seguiram, seguiram mais difíceis,

Dias em que empurrei, que levei como pude,

Em que comprei pão e leite,

E que tomei solitários cafés,

Em que não me suportei,

Em que não queria olhar pra trás,

Em que era uma vergonha a lua assim, tão cheia.

Tinha acabado de chorar

E lavado um pouco a alma, enfim,

E largado as armas,

E baixado o tom da voz,

E posto o resto do vinho fora,

E amassado os maços de cigarros vazios,

Então resolvi que era melhor deixar assim,

E dormir de novo, e escolher um dia,

Pra acordar e deixar os pés tocarem o chão novamente,

E deixar uma perna seguir, depois da outra,

Num dia após o outro...




Reencarnações (em vida)

Renasce o dia,

Abrem-se os olhos,

Reabrem-se os poros,

Abrem-se os braços, espreguiçando,

Pela janela, o horizonte, aberto,

A vontade de respirar,

Caminhar,

Sentir o sol, na pele, sentir,

A vida em seus ciclos, intermináveis...




segunda-feira, 12 de maio de 2008

Demasias


Estou com sono demais para dormir,

Estou com fome demais para comer,

Sinto frio e sinto calor – e não sei o que devo sentir.

Estou ansioso demais para viver,

Estou contente demais para sorrir,

Arrependido demais para chorar,

Com saudades demais para te ver,

Com desejos demais para te amar...




domingo, 11 de maio de 2008

Mãe - Feliz Dia das Mães!



Ela me conhece bem demais
Lhe falo tudo, lhe conto tudo
Dos medos mais inexplicáveis,
Das experiências mais vergonhosas,
Dos segredos, dos delírios...
Ela me ouve atenta e faz as perguntas que eu faria,
Observa os detalhes,
E nunca há desequilíbrio entre a porta aberta e sua visitante.
Ela me conhece e me traduz,
Como se tirasse um Raio X,
Às vezes, explica coisas de mim
Que até ontem, eu não sabia.


quinta-feira, 8 de maio de 2008

Carpos, metacarpos e falanges


Estou nas tuas mãos, como a forte linha da vida na tua mão esquerda,
Como as digitais em teus dedos,
Mas a impressão que tenho,
É que te desencontro,
E perco a linha.

E quando me vejo, escorregando entre teus dedos,
Agarrado às tuas falanges,
Esperneio, me reviro, grito, resisto.

Anseio que leve a mão ao teu colo,
Pelos teus cabelos,
Ao teu peito.

No por enquanto,
Me protejo debaixo das tuas unhas.
Com muito tato,
Me equilibro entre teus dedos cruzados.

Quem sabe um dia surge uma cigana,
Que me aponte em tua palma,

Que me leia em teu destino...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Traço


E pinto seus traços,

É o que me resta fazer e faço.

Sigo assim, retratando cada expressão, colorindo a paixão,

Mentindo pra mim que és minha.

Pois quando te desenho,

Na tela é o teu sorriso que me convence, sem censura, que te tenho.

E assim vou levando.

Um dia, de verdade, ganhas vida,

Um dia, por vontade,

Viro traço...