sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A_Flora e Fogo





Era ela, em vermelho. As mãos ondulavam, dançavam ao vento enquanto cantava. Eu não via mais nada. Girando, mostrava o caminho da música, sua frequência na minha, tudo o que ela me permitia perceber, beirava o divino.
Me abraça!

A mãe sonhou que subia a encosta de um morro, era tão íngreme, exigia tanto das suas pernas, lhe doíam os quadris e o bebê em sua barriga reclamava, queria vir ao mundo e a ajudar, a subir.

- Não está na hora, amor. Está tão quente... Me espera, você não está pronta, não ainda. Nem eu...

Quando chegou ao pico e olhou para baixo, era tão alto e tão fundo, e tão quente. Apenas quando apertou os olhos, e focou, pôde perceber: tratava-se de um vulcão. Com o susto, escorregou e mergulhou, rumo à lava.

O pai acordou. Era tanto calor. Mais que ele, sua esposa, grávida de vinte e oito semanas, molhada em suor, passava mal, delirava. Tentou em vão despertá-la. Ergueu-a no colo. Nada o acalmaria, queriam tanto sua primeira filha. Queria garantir o bem estar de Maria. Não conseguia. Enquanto dirigia o carro, tocava seus dedos e passava a mão em seu rosto. Ela não reagia. Deus, ele pensava: eu vou conseguir. Segura Maria.

Maria não segurou...Mas Flora nasceu.



Élinson Martins (março/2016)