Quero gritar
Quero gritar como uma moto com a surdina aberta a varrer a avenida
Quero gritar como um animal pré-histórico, como um monstro mitológico,
Tenho a boca fechada
Mas minha garganta, meu peito pede um grito
E é primal
E é abafado no travesseiro
O grito de um urso polar, no deserto de gelo e neve
O grito de uma represa que racha e desprende rios acumulados
O grito de quem procura
O grito de quem quer ser achado, no meio de uma floresta, de um labirinto.
Quero gritar
E é provável que não seja bonito
E por certo assustará
E pode incomodar
Quero gritar
E pode não fazer sentido
Mas preciso e vou gritar
Como no quadro de Munch
Como quem cai
Como quem se defende ou defende alguém
De um perigo mortal
Como quem mata qualquer coisa inexplicável
Como quem ama vou gritar
Para recuperar a razão
Vou gritar
Até perder a voz
Até meu grito sair e me perder de vista...Vou gritar
(Porque há o direito ao grito. então eu grito. Clarice Lispector)
2 comentários:
Nem preciso falar!
adorei seu blog!
bjokas gauchoooo =*
Fantástico! Teu texto em si já é um grito de paixão, de loucura, de humanidade. Às vezes temos de nos ouvir, nos ouvir por dentro e, para isso murmúrios não bastam.
Um abração, conterrâneo.
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