domingo, 30 de março de 2008

Grito


Quero gritar

Quero gritar como uma moto com a surdina aberta a varrer a avenida

Quero gritar como um animal pré-histórico, como um monstro mitológico,

Tenho a boca fechada

Mas minha garganta, meu peito pede um grito

E é primal

E é abafado no travesseiro

O grito de um urso polar, no deserto de gelo e neve

O grito de uma represa que racha e desprende rios acumulados

O grito de quem procura

O grito de quem quer ser achado, no meio de uma floresta, de um labirinto.

Quero gritar

E é provável que não seja bonito

E por certo assustará

E pode incomodar

Quero gritar

E pode não fazer sentido

Mas preciso e vou gritar

Como no quadro de Munch

Como quem cai

Como quem se defende ou defende alguém

De um perigo mortal

Como quem mata qualquer coisa inexplicável

Como quem ama vou gritar

Para recuperar a razão

Vou gritar

Até perder a voz

Até meu grito sair e me perder de vista...Vou gritar


(Porque há o direito ao grito. então eu grito. Clarice Lispector)


2 comentários:

Luana Freitas disse...

Nem preciso falar!

adorei seu blog!
bjokas gauchoooo =*

Janice Diniz disse...

Fantástico! Teu texto em si já é um grito de paixão, de loucura, de humanidade. Às vezes temos de nos ouvir, nos ouvir por dentro e, para isso murmúrios não bastam.

Um abração, conterrâneo.