Fiz do momento um retrato,
Pra jamais esquecer.
Selei com um beijo o pacto,
De me deixar envolver.
E amei sem perceber,
Cumpri o pacto,
. . . . . . . . . . . .Amei de fato.
Ela abre bem as torneiras,
A água forte sobre seu corpo a conforta,
O conforto que necessita, ou quase isso...
Se esfrega com força,
Há de se livrar desta sensação de tê-lo entre os poros.
Lava os cabelos, com água abundante,
As lágrimas insistem em cair,
Sentindo na boca esse misto de sal e espuma,
Pensa o quanto é difícil não saber pra onde ir, neste repente em que tudo aconteceu (ou deixou de acontecer)...
Trataria de se refazer,
Trataria de se lavar,
De se livrar...
Pensava (ou deixava de pensar),
Enquanto o que restava dele corria com a água, desde seus poros às aberturas do ralo...
Lhe assombram várias coisas, percebo e me conta. Ela fala:
Que lhe assombram os nós na garganta, que diz, ainda hão de passar,
Que lhe assombram os pêlos do púbis de uma antiga paixão adolescente,
Que lhe assombram seus calos, suas rugas e seus cabelos brancos,
Que lhe assombram seus sonhos arquivados pra sempre,
Que lhe assombram as antigas memórias do seu velho morto, a percorrer suas veias,
Que lhe assombra a maldita sensação de, em certas noites, ter dos mais diversos e peçonhentos bichos a percorrer sua cama, a caminhar seu corpo – e, às vezes, no meio da madrugada, se levanta e assombra a casa inteira, aos gritos, aos prantos.
E me liga e me conta:
- Escorpiões, aranhas, serpentes, são tantas...