Abriu os olhos vagarosamente, voltou-se para o lado do banheiro, viu sob o friso da porta que já havia amanhecido. Que dia seria? Estava atrasada? Novamente...Não! Se atrasou para o trabalho ontem, hoje era sábado, no celular: 10 horas. A boca seca.
A cama além dela, vazia.
Uma das meias no chão, a outra no pé esquerdo, preguiça, bocejo,
gemido.
Levantou-se livre. Com o que sonhou? – não lembro. Talvez com ele.
Uma festa, talvez, colocava o som, mexia com vinis...Pegou a toalha. Pensou em
fumar um cigarro antes do banho. Resolveu que após o café seria mais gostoso.
A ducha quente, lhe aliviava as dores no corpo e lhe livrava da
preguiça. Tentou não pensar em nada. Apenas sentir a água gostosa lhe
escorrendo a espuma. Alguma letra de música que combinasse.
Passou o café, enquanto regava duas plantas. Uma delas, ele lhe
deu. Havia dois anos, dois anos hoje. Abriu o armário, não sabia decidir se uma
caneca ou uma xícara. Pegou a xícara, um pires, uma caneca. O açúcar. Levou
para a mesa, pequena, na sacada, no oitavo andar, de frente para outros
prédios. Buscou o café. Onde servir?
Ainda abrindo vagarosamente os pensamentos, divagou, olhando a
xícara e sua base tão estreita, pensando que se não fosse o pires, a xícara
estaria à mercê de qualquer toque, qualquer vento, qualquer mínima ação. Sem o
pires, a xícara, poderia tombar. Ao passo que a caneca, com seu formato, toda
sua larga base, nada lhe atingiria. Sozinha, passaria ilesa, por quase todas as
pancadas. Se enxergou ali, caneca. Sozinha, sem pires, resistente, firme,
pousada na mesa. Ela era caneca. E o café era forte.
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