Teve um dia que foi hoje, mas amanhã vai passar,
Em que me senti tão pequeno,
Em que me senti tão diminuído,
Em que, à noite, tomando banho, senti que deveria abrir as pernas e me segurar nas paredes,
Por medo de escorrer com a água, ralo abaixo...
E senti um peso sobre os ombros enquanto andava,
Como num sonho, em que se tenta correr,
E que mal se sai do lugar,
Tentei pular, mas a gravidade (das coisas) não me deixou sair do chão...
Senti a iminência de tantas câimbras, em cada músculo.
Me senti invertebrado, me senti um bicho úmido e cheio de erupções,
E achei, que de tão aturdido, sentado, olhando pro nada,
Viraria uma estátua, como numa maldição mitológica,
Olhei para olhos pros quais não deveria ter olhado, pensei...
E quando desfiz meus planos, e desfiz tão bem, meus mal traçados planos,
Que chegou a parecer que nunca os tive...
Me enganei com alguém, e pensei que, por mais que as pessoas nos enganem,
Quem engana a si próprio primeiramente, sempre somos nós...
Me senti prisioneiro num dia que foi hoje, mas amanhã vai passar,
Prisioneiro de mim mesmo,
E me arrependi de não ter fugido antes,
E quando estava na rua, tive receio, de estar preso ainda, estando apenas numa cela maior...
E quando olhei pra trás,
Para um lugar qualquer no dia que foi ontem,
Me arrependi, como a dor arrependida de quem sabia que receberia um tapa e não se esquivou,
Como a vergonha da criança que insistiu numa brincadeira boba e caiu...
Eu te avisei ainda alguém vai dizer, enquanto sangra...
Isso ocorreu no dia que foi hoje, mas amanhã vai passar,
Eu bem sei, ainda me lembro da cor daquele poço,
E ainda tenho os dedos esfolados de escalar seu fundo,
Os reflexos de um eco e uma sombra me seguindo,
Sabia que no dia seguinte passaria,
E posso dizer que já me sinto renovado, agora, respirando novos ares nesta meia noite,
E um...
Em: 18/06/08.