Era ela, em vermelho. As mãos ondulavam, dançavam ao vento enquanto cantava. Eu não via mais nada. Girando, mostrava o caminho da música, sua frequência na minha, tudo o que ela me permitia perceber, beirava o divino.
Me abraça!
A mãe sonhou que subia a encosta de um morro, era tão íngreme, exigia tanto das suas pernas, lhe doíam os quadris e o bebê em sua barriga reclamava, queria vir ao mundo e a ajudar, a subir.
- Não está na hora, amor. Está tão quente... Me espera, você não está pronta, não ainda. Nem eu...
Quando chegou ao pico e olhou para baixo, era tão alto e tão fundo, e tão quente. Apenas quando apertou os olhos, e focou, pôde perceber: tratava-se de um vulcão. Com o susto, escorregou e mergulhou, rumo à lava.
O pai
acordou. Era tanto calor. Mais que ele, sua esposa, grávida de vinte e oito
semanas, molhada em suor, passava mal, delirava. Tentou em vão despertá-la.
Ergueu-a no colo. Nada o acalmaria, queriam tanto sua primeira filha. Queria
garantir o bem estar de Maria. Não conseguia. Enquanto dirigia o carro, tocava
seus dedos e passava a mão em seu rosto. Ela não reagia. Deus, ele pensava: eu
vou conseguir. Segura Maria.
Maria não segurou...Mas Flora nasceu.
Élinson Martins (março/2016)