Deixa
vir, tente manter minha voz na superfície do seu entender, sem sair desse sono
profundo.
Me
ouça apenas, sei que é estranho, você nunca me viu, não sei se lembra da minha
voz, minha menina, eu tenho tanto pra te falar, a vontade que tenho de te ver sorrindo
quando o vento bate nos seus cabelos, é tamanha...não, não me abraça! Ainda é
cedo. Embora minha saudade seja para sempre.
João
observa Flora dormindo. Tão linda! Lembra em tudo sua mãe, em cada suspiro,
quando se vira na cama e se acomoda, puxando com força o travesseiro para si,
'um anjo se confortando entre as nuvens', ele pensa.
João
não se permite dormir, velando o sono da filha.
Como
perdeu Maria, jamais de novo.
Naquele
dia, desistiu de dormir, para sempre.
E
vai até ela de meia em meia hora, entre olheiras e os pés arrastando, lhe
testar a temperatura, com as costas da mão no rosto pequeno de menina.
É
um alívio sentir que não há febre alguma. Devagar, lhe escorrem as lágrimas,
como se vertessem entre as rugas, parece suor. É alegria.
-
Eu te amo, pai - ainda dormindo, ela diz, quando sente o pai lhe cobrindo com
um lençol florido que Maria adorava. Seu nome nasceu ali, com Maria admirando o
lençol em outra noite quente, de 14 verões atrás.
- O
pai te ama mais! Dorme amor...
João
queria tomar qualquer sonho ruim pra si.
Um
dia enfim o pai dormiu, e não adiantou chamar, ele não ouvia.
-
Maria! Não sei nem por onde começar.
-
João! Calma, descansa um pouco, já não faz calor...
Ela já na superfície das águas, mas querendo
ir fundo, entender.
-
Espera, volta! Quem é você?
-
Volto, amor! Estarei sempre aqui...
Élinson Martins 27/10/2016 (vem aí a parte 3! ;)
Link para a parte 1:
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