sábado, 6 de agosto de 2016

ACID SERIES: Carlos Severbuk: O velho, o cego e o novo blues – Parte 5





- Serviço de quarto – Veio o grito acompanhando pancadas na porta.

Pensei em rir. Mas pensar nisso me fez perceber que rir, já era algo fora da minha realidade há tanto tempo. Ainda assim, parecia cômico perceber que a essa altura da desgraça da minha vida, eu tinha uma buceta jovem e molhada entre meus dedos e ao mesmo tempo uma bebida desejada à porta. Paraíso? Será que as horas em que passei no banheiro eram um limbo? E agora, enfim, chegara minha redenção? Eu vou morrer! É agora! Tudo me fazia crer que sim. Meu coração pulando, mais que isso, eu sentindo essa porra no meu peito batendo, como há tanto tempo não sentia. Mexo os dedos? Olhos naqueles olhos que me chamam? Sinto frio? Sinto...me arrepio...eu não conhecia mais isso. Tenho medo de machuca-la, pois não sei mais sentir, foder, com os dedos sequer.

- Deixa na porta! – gritei, com medo de assustá-la. Mas criei coragem e a olhei naqueles olhos verdes, entre abertos, lindos, indiferente, molhada.

- Você tem que assinar! – devolveram.

Caralho.
Olhei de novo pra ela, pedindo piedade, eu acho. Eu não queria quebrar, eu não queria parar. Você sabe... Não sabe?
Ela balançou a cabeça, me deixando ir. Abriu mais as pernas, tirei o dedos e levantei em gestos que pareciam levar uma vida.
Me ergui, como um prédio, aos meses, sob engenharia, arquitetura, mas materiais escassos , descalcificação, artrites, traumatismos, desistências.
Abri a porta, um rapaz, de uns 18 anos, que cumpriria dezesseis vezes melhor o meu papel ali dentro daquele quarto, com aquela garota. Os olhos intrusos, me coloquei no caminho dos seus olhos e perguntei:

- Onde assino garoto?

- Aqui senhor...

- Obrigado!

Peguei a garrafa de cima da bandeja. Fechei a porta na cara curiosa dele.
Com a garrafa na mão, tonteando no quarto, sem encontrar mesa, sem encontrar copo, abri a todo custo a garrafa. Era mesmo a bebida que pedi. Ainda assim, me faltava coragem, me faltava rumo e copo e envolto com o pingo de tesao nos meus dedos molhados com o tesao dela. Tomei um gole generoso, sedento. Caralho.
Baixei a garrafa na mão direita. Vivi. Puxei o braço, mais forte, mais firme, maior. Voltei.
Olhei ela nos olhos. Ela sorriu, e riu alto.

- Tudo bem? – perguntou.

- Ta gostoso? – sem resposta minha

- Aham – me veio, e sorri, pela primeira vez, quando foi a última vez que sorri?

- Quer?

- Quero sim! – rapidamente respondeu.

Ela se ajeitou na cama. Roupa nenhuma, o lençol escorrendo até a cintura, revelando os seios, pequenos, num sobretom tão sutil, os cabelos em volta. Cedi a garrafa, nossos dedos se tocando com sutileza, e me percebi sentindo isso, esses detalhes, como já não sentia há tanto tempo. Ela empinou a garrafa. Gole. Goles. Goles. Bebeu mais que eu, duas, três vezes. Puxei a garrafa da boca dela,

- Calma garota!

- Estou calma – riu – Agora vem! Quero beber você!!

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